sexta-feira, 24 de julho de 2009

Absurdo


Do livro do desassossego de:
Fernando Pessoa

Tornarmo-nos esfinges, ainda que falsas, até chegarmos ao ponto de já não sabermos quem somos. Porque, de resto, nós o que somos é esfinges falsas e não sabemos o que somos realmente. O único modo de estarmos de acordo com a vida é estarmos em desacordo com nós próprios. O absurdo é o divino.

Estabelecer teorias, pensando-as paciente e honestamente, só para depois agirmos contra elas – agirmos e justificar as nossas ações com teorias que as condenam. Talhar um caminho na vida, e em seguida agir contrariamente a seguir por esse caminho. Ter todos os gestos e todas as atitudes de qualquer coisa que nem somos, nem pretendemos ser, nem pretendemos ser tomados como sendo.

Comprar livros para não os ler; ir a concertos nem para ouvir a música nem para ver quem lá está; dar longos passeios por estar farto de andar e ir passar dias no campo só porque o campo nos aborrece.

quarta-feira, 8 de julho de 2009

"Santa Cruz do Capibaribe pelos olhos de um taquaritinguense"


Insuportavelmente bela, a terra das confecções encanta qualquer um que por essas bandas insistam visitar. São as mãos habilidosas de mulheres instigantes que com a arte da costura impulsionam a economia dessa terra. Santa Cruz do Capibaribe perdeu sua calma de outrora, mas ganhou o burburinho do desenvolvimento rápido que se ver por entre as ruas, casas e pequenos fabricos de quintal. A população sequer reclama, mas se assusta ao ver a criminalidade aumentar, pois é. Criminalidade e violência é o preço que se paga pelo desenvolvimento. Ou isso ou aquilo, como dizia a bela e doce Cecília Meireles! Ou se tem calma e não se tem desenvolvimento, ou se tem desenvolvimento e não se tem calma.

Santa Cruz do Capibaribe, terra que amo e que vivo há 20 anos. Cidade que eu adotei para morar. Terra que me viu crescer e por aqui aprendi a arte de costurar, de saber o segredo da boa costura. Terra da “sulanca”, que outros preferem terra das confecções, uma vez que sulanca se mostra pejorativo, devido muitos verem o termo como roupa de pouca qualidade. Mas, foi com esse termo que a gente batalhadora, parou em pleno domingo a noite para ver sua terra mãe ou adotiva para muitos, desfilar em matéria do Fantástico.

A terra das confecções mais do que nunca é importante para toda a região Agreste de Pernambuco. Pelas vias da BR 104, a produção santacruzense escoa pelo Brasil afora ganhando novos ares e vestindo gente que nem sabe da existência desse oásis em pleno Nordeste brasileiro.

domingo, 5 de julho de 2009

Genialidade poética de Clarice Lispector

Não te amo mais.
Estarei mentindo se disser que
Ainda te quero como sempre quis.
Tenho certeza de que
Nada foi em vão.
Sei dentro de mim que
Você não significa nada.
Não poderia dizer nunca que
Alimento um grande amor.
Sinto cada vez mais que
Já te esqueci!
E jamais usarei a frase
EU TE AMO!
Sinto, mas tenho que dizer a verdade:
É tarde demais…



Agora, leia de baixo para cima.


Agora veja o comentário de Raldianny Pereira

Clarice, valendo-se de frases absolutamente triviais relacionadas a um tema do cotidiano, tão antigo quanto o próprio ser humano, criou um poema original e surpreendente.

Perdoem minha ignorância, mas jamais vi nada igual.

Admiro a genialidade desta admirável mulher e a sensibilidade de sua arte que, quem sabe, venha exatamente da simplicidade…

sexta-feira, 3 de julho de 2009

Agir


Extraído do Livro do "Desassossego" de Fernando Pessoa

Eu agi sempre,
Eu agi sempre para dentro
Eu nunca toquei na vida.
Nunca soube como se amava...
Apenas soube como se sonhava amar.
Se eu gostava de usar anéis de dama nos meus dedos,
É que às vezes eu queria julgar
que as minhas mãos eram de princesa.
Gostava de ver a minha face refletida,
Porque podia sonhar que era a face de outra criatura...

quarta-feira, 1 de julho de 2009

Olhar bem devagarinho...


Betto Aragão

Olha devagar para as pessoas, coisas ou objetos nos permite enxergar de fato como são. A pressa do dia a dia nos faz ver tudo tão rápido que estamos perdendo a essência de olhar o outro de forma sublime e peculiar. As características hão de se perder pela rapidez do cotidiano. Devemos voltar a cada instante e rever por entrelinhas, cores, caminhos ou seja lá pelo o que for, mas temos por obrigação de estarmos aptos a cada momento rever algo que se foi, e sorte nossa se pudermos ainda rever...


As coisas passam rapidamente como um cometa que se foi e não volta mais. Perdemos-nos pelo tempo. Um tempo que não perdoa nada, um tempo que nos faz perceber o quão importante são os seres que entram e saem de nossas vidas. Cada um que entra, quando sai deixa um pouco de si. Algo bom ou ruim, mas deixa. Os erros colhidos pelo caminhar nos remetem aos acertos quando temos sensibilidade de abstrair o aprendizado obtido a partir dos erros, sejam eles alheios ou nossos. Pena que quando é nosso, fica mais difícil de reconhecer, pois é muito mais fácil apontar o dos outros!